Certa vez tive um sonho em que sofri um acidente de carro e estava preso nas ferragens sabendo que ia morrer, porque meu estado era crítico e não dava pra sair com vida. Quando os bombeiros me tiraram das ferragens o meu sangue começou a jorrar e, se em um momento eu estava desesperado por estar morrendo, em outro eu já não estava mais, pois um grupo de crianças veio em minha direção e eles estenderam as mãos para me ajudar a levantar e sair dali. Essas crianças estavam com semblante calmo e com um leve sorriso que me passava uma paz indescritível e quando reparei nelas, vi que algumas estavam usando chapéu e outras não, essas que estavam sem chapéu eram carequinhas, como se tivessem passado por uma quimioterapia.
O que me impressionou mais naquele sonho, não foi o fato de estar morrendo, mas sim o jeito que as crianças encaravam a morte!
Naquela hora eu acordei e já não consegui mais dormir e então comecei a fuçar na net algo sobre crianças com câncer e achei algo que me levou ao instituto Mário Kroeff. Esse instituto além de ser um hospital sério que trata os doentes com muito carinho, é também um "lar" para que as famílias pobres tenham alguma esperança de ver seus parentes terem uma cura.
Trabalhar com essas crianças muda a vida de qualquer pessoa, pois a felicidade com que elas te recebem e a importância que elas dão para cada gesto seu, é algo de uma enormidade indescritível e só terá a oportunidade de ter uma emoção como essa quem tiver com a mente,a alma e o coração aberto para ajudar quem precisa.
Se você vive chateado com alguns problemas e está procurando motivação para sorrir, vá um dia ao instituto e conheça essas crianças cheias de energia, na maioria das vezes sorrindo e sempre prontas para brincar, mesmo com dificuldades financeiras e a doença que atrapalha a vida das mesmas.
A menina de camisa rosa olhando pra foto, com olho vesgo, já não falava direito e também não andava direito e mesmo assim vivia atrás de mim querendo brincar e a menina de jaqueta jeans e arquinho na cabeça, certa vez pediu que a médica me chamasse pra brincar com ela antes de ela tomar o sedativo pra dormir, fui lá e ela já iria tomar o remédio... então ela pediu com delicadeza para a médica que colocasse o sedativo devagar para não doer, e eu que fui chamado pra fazê-la rir, quando ouvi isso, estava quase chorando, mas tinha que me segurar, e continuei brincando com ela até que o sedativo fizesse efeito... então rapidamente a mãe dela estava se retirando da sala e eu que não sabia de nada também saí e ela me explicou que não queria ver a filha recebendo uma injeção enorme nas costas para tirar um líquido branco... aí eu chorei com a mãe da menina...
Fui para outra sala em que uma menina iria passar o fim do ano no hospital e a mãe estava la, ao lado dela... Mãe é algo divino. Fiquei com elas um pouco mas tive que sair pois a menina não podia se mexer direito e estava quase dormindo além de que as outras crianças estavam me aguardando para fazer o show na festinha de natal delas.
O trabalho que fiz com essas crianças foi algo marcante por que todas as crianças que estavam ali tinham esperança de cura, estavam sofrendo porque sabiam que estavam perto da morte, pois sempre tinha um ou outro amiguinho com a mesma doença morrendo e mesmo assim elas estavam sempre sorrindo pra mim.
Tem muita gente que me diz não ter coragem de ir ao hospital porque não gosta de ver criança sofrendo ou por outro motivo qualquer, mas eu não concordo pois as pessoas não podem simplesmente se ausentar do momento de dor do próximo, é nesse momento que nós temos que nos unir e ajudar pois a recompensa é a chance de ser verdadeiramente humano.
Eu aprendi que tem muita gente que quer viver pelo menos mais um pouquinho e está morrendo... e muita gente que tem uma vida inteira pela frente e não valoriza vivendo...
